
No espaço de um ano tanto pode passar muito tempo, como tempo
nenhum. A dada altura podemos estar tão concentrados no passado, que o decurso
de doze meses não nos leve a lado algum. Quando isso acontece, ainda que o
tempo passe, continuamos no ponto de partida, iguais ao que éramos no dia em
que começámos. E então, talvez possamos dizer que parámos no tempo ou que para
nós ele não chegou a passar. Mas muitas vezes é também nas alturas em que
estamos presos aos nossos tempos amargos, que ficamos com a sensação de que o
tempo leva afinal, uma eternidade a passar.
Da mesma maneira, depois de um ano cheio de acontecimentos, fácil
é de constatar, no momento de olhar para trás, que todo aquele tempo passou a
correr. Mas mesmo então, acabamos muitas vezes por ser obrigados a reconhecer,
que de tantas voltas que a vida dá, durante aquele período crescemos,
envelhecemos ou que a nossa vida de facto mudou. Porque uma grande mudança,
ainda que ocorrida num curto espaço de tempo, pode levar a que nos tornemos irreconhecíveis,
até para nós mesmos.
Chega a ser
engraçado como o tempo sem relógios tem destas coisas, de ser e de não ser ao
mesmo tempo, consoante ele seja medido pelo que a sua passagem nos provoca, ou
pela noção que temos dele. Dou um exemplo claro, da minha experiência pessoal:
há cerca de vinte anos mudei de cidade, de língua e de hemisfério, para um fuso
horário totalmente diferente. E apesar de nem ter sentido o passar dos anos,
todo o tempo que aqui passei foi feito de uma tal correria de pessoas, de
lugares e de costumes, numa tamanha enxurrada de paixões e de abandonos, de
amizades e de ausências, de alegrias e de saudades, que muito sinceramente,
pelo que tudo isto aqui me fez, mais me parece terem passado afinal quarenta.
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