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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

noites portenhas




Quando não estava no La Biela ou a ajudar o meu tio nos seus afazeres diários, seguia a conhecer a noite portenha com os muitos amigos que aqui e ali fui fazendo. Não sei como é que está Lisboa hoje em dia, mas na noite de Buenos Aires existem casas para todos os vícios.
De inicio o que fez com que me apaixonasse por esta cidade foi o tango, que comecei a ouvir um pouco por toda a cidade e que rapidamente aprendi a acompanhar com o corpo. Masculina e triste, cheia de drama, sexualidade e paixão e onde a mulher manda com a sua tristeza indomada. Tudo embrulhado numa dança em que os corpos ora lutam ora se entrelaçam num abraço musical. Tornei-me assíduo frequentador das melhores tanguerias ou milongueras da cidade, sobretudo no bairro de San Telmo. Aos poucos e poucos o Tango transformou-se numa adição a que durante alguns anos não resisti. E que acabou por me transformar numa espécie de filho adotivo desta cidade.
Mas com o tempo, passei a frequentar todo o tipo de lugares, pois comecei a ser convidado para as diferentes festas que se faziam um pouco por toda a cidade, sobretudo nos bairros de Palermo, Recoleta Montserrat e San Telmo. Sempre tive facilidade em dar-me com todo o tipo de gente e acho que sobretudo o que eu gostava era de observar as pessoas, de as conhecer e de as testar. De tentar perceber os seus sinais, as suas contradições e os seus segredos. Sempre me fascinaram aquelas almas penadas que ficavam a agitar os seus corpos, até de madrugada. Apesar desse fascínio também eu acabei por me tornar, sem que o percebesse, numa destes personagens. Mas por mais que me deixasse envolver, o crepúsculo da madrugada nunca deixou de me despertar do torpor moral da noite. Como se o contacto com a luz de um novo dia, me recuperasse instantaneamente das ilusões da noite, fazendo-me aperceber dos seus enganos.

A noite é o lugar preferido daqueles que têm pressa para conhecer o seu destino. O preço para entrar começa por ser apenas o tempo. O tempo que nela passamos e o tempo que nela perdemos. Passado um tempo, é com o corpo que pagamos a nossa permanência naquele lugar. Mas se permanecermos tempo suficiente, antes mesmo que aquele se esgote, não raras vezes acabamos por pagar a estadia com a própria alma. Porque de facto, se há dias para todos os gostos, as noites, há-as para todos os vícios. E é preciso que estejamos preparados, se lhes quisermos sobreviver inteiros.

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