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terça-feira, 31 de maio de 2011

TIME OUT - RECEITA DE MAIONESE

Certa vez, há muitos anos atrás, assisti no telejornal a uma notícia sobre uns manifestantes que se encontravam à porta da embaixada de Espanha. Não me lembro da razão dos protestos, mas terá sido certamente qualquer coisa de grave que levou os manifestantes a recorrer à forma mais grave de protesto: a greve de fome. O repórter entrevistou alguns deles e perante a infantil pergunta do repórter ― “ como é que consegue estar aqui tantas horas sem comer? ” ― respondeu pacientemente uma Senhora participante da manifestação: " é muito simples! Além da nossa convicção de que a lutamos por uma causa justa, ajuda-nos o facto de termos trazido connosco vários livros de culinária. Assim, todos os dias à hora das principais refeições folheamos os livros de receitas e passamos os olhos pelas fotografias dos pratos mais deliciosos. A reacção do corpo, de salivar e activar o aparelho digestivo, é suficiente para aliviar a fome! ".

Não faço a mínima ideia porquê, mas nunca mais me esqueci disto.

Até que hoje, estava eu a almocar na baixa e dei por mim a salivar furiosamente como uma criança numa fábrica de chocolate a ler a Time Out, e verifiquei que de facto a depressão às vezes causada pelo dia a dia, as angústias pessoais e as preocupações profissionais podem de facto ser combatidas com o simples folhear da secção de espectáculos de restaurantes ou festas daquela revista. O nosso cérebro, ao antecipar todo um copioso duche de cultura nos mais variados spots ― muitas vezes salpicado com os chiquérrimos sais de banho do "Glamour" que rima com " Amour" ou do mais abreviado e brejeiro "Glam" que rima com "Lamb" ― activamos o hipotálamo e outras zonas do cérebro responsáveis por sensações de alegria e "bem estar". E tão inconsciente como mecanicamente, damos ordem de soltura às glândulas responsáveis por injectar no sistema circulatório todo um conjunto de drogas altamente causadoras de dependência, tais como as endorfinas, o oxitógénio e a adrenalina. E é aí que fazemos tudo aquilo que os apaixonados fazem: fazemos planos. Então, como se subitamente nos tivéssemos tornado em autênticos deuses campeões da sedução, capazes mesmo da mais ousada conquista, de repente tudo soa a desafio, à chance de mais uma descarga química proporcionada por aquilo que a leitura daquela revista apenas prometeu.

E mesmo que sejamos uns bazófias daqueles que falam, falam, mas depois não fazem nada, atestamos o depósito de conversa de chacha que nos manterá à tona durante aqueles três minutos essenciais. Os do costume.

JAO

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