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Lembro-me como se fosse ontem: quando reparaste que era eu quem ali estava, num instante coraste, levaste a mão à boca e gritaste de terror com os olhos sem que ninguém à tua volta o reparasse. Confesso que o que me espantou naquele momento foi mais o teu olhar demasiadamente envergonhado e comprometido do que outra coisa qualquer. Desculpaste-te e foste à casa de banho lavada em lágrimas, deixando surpresos os que te acompanhavam.
O que é que se passou entre nós? Tinhas-me mentido a mim ou a ti própria, não sei. Sei apenas que a verdade é uma das componentes essenciais da reação fotossintética que produz amor. Quem falta à verdade, falta no amor, como se ambos fossem faces da mesma medalha, em que a existência da mais pequena reserva interior reflete-se nos atos de entrega, porque lhes retira a saúde própria de lhes fazer corresponder, pelo menos, uma equivalente porção de amor.
Aquele momento foi como poucos na minha vida. São momentos que nos chamam. Que passam por nós, muitas vezes num instante, e que se estivermos atentos, mostram-nos as faltas de amor que existem na engrenagem das nossas vidas. As faltas de amor que acabam por obstruir os vasos que fazem a distribuição do melhor que há em nós, por todos os que se cruzam no nosso caminho. E eu gostava demais de mim para ficar ali por mais um minuto que fosse. Por isso, quando voltaste, já eu estava bem longe dali.
Não sei o que terás pensado da minha partida mas concerteza que não terás estranhado a maneira como me vim embora. Certamente que me esqueceste e foi assim que ficámos. E para minha pena, culpa e despeito, nunca mais te vi.
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JAO
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