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terça-feira, 31 de maio de 2011

A teoria da lua e a magia das estrelas decadentes

I just don't care what's going on around here
'cause i already know a place 
where the skin bonds to the sand, 
and the eyes dissolve into the ocean


"where the sun can shine through,
 we can grow silver apples and golden pears,
I know i'll see you there"

JAO + Miami Horror - Moon Theory

Todos gostamos de estrelas cadentes. A notícia de que se aproxima a melhor altura para as observar foi notícia neste Verão, e muitos chegaram a trocar noites mornas e agitadas por reservar tempo à procura de céu na espera da sua estrela cadente. Aquela que passa para cada um de nós, que se avista, se guarda e é o pretexto ideal para nos dizermos o que desejamos.

Mas nessa espera nem pensamos muito que de facto, as estrelas cadentes que passam mais não são do que um festim de morte e de destruição pelo fogo, o fim de uma viagem que, inversamente, serve para nós de momento certo para formular um início ou um recomeço directamente saído de um plano de desejos. A suprema ocasião para magicar bem lá no alto, onde não chegam os nossos olhos cansados e habituados a tanto chão.

E assim, é como espectadores de uma execução macabra onde colocamos as nossas esperanças mais profundas, que assistimos sadicamente fascinados ao brilho da destruição de meteoros portadores de segredos que nunca conheceremos, no vazio das camadas exteriores da nossa atmosfera.

Mas como dizia o químico, nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma. O Universo tem de facto os seus equilíbrios, os seus vasos comunicantes que, actuando como veias, nervos e tendões, operam as suas próprias compensações. E pelos vistos, por cada dessas mortes nasce um sonho. São trocas destas que nos deixam de braços caídos ante a nossa própria pequenez face à grandeza do Espaço a que pertencemos, e que pelos vistos até gosta de nós.

A nossa vida está cheia destas estrelas decadentes, equívocos permanentes de felicidade passageira que teimosamente insistem em repetir-se se não estivermos atentos. Talvez seja por isso que eu já não seja de aqui. O meu mundo mudou-se para bem longe, para um satélite bem maior e mais longínquo do que essas camadas exteriores da nossa atmosfera onde nos limitamos a fazer desejos. Para um mundo de paisagem lunar onde me sinto espraiar respirando a atmosfera feita de sol e pele, areia e sorrisos, e de mar e dos teus olhos nos meus.

É um mundo novo, feito de areia mar e sol, onde tudo é óbvio e onde se revelam as menos óbvias mil possibilidades por explorar. Corpo, boca e cabelos, tudo atirado para o centro da mesma toalha como se fossem os dados lançados sobre o destino do próximo caminho a seguir.

No entanto, enquanto a língua rola na pele revelando tons de azul e salgado, despeço-me secretamente de ti. Porque de facto, apesar da força bruta que me anima e desperta tudo o que sou e a que juro não escapar, reconheço temer que o Universo, com todos os seus equilíbrios e vasos comunicantes, não o irá permitir.

Julgo que todas estas pedras, falésias, mar e tudo o que se move, ouve, sussurra e observa, enciumados por tamanha embriaguez de céu, não nos iam deixar escapar impunes a nadar imersos em novelos de nós, de silêncios e de olhares cúmplices e emparvecidos. Talvez seja demais achar que conseguiríamos, como deuses, manter-nos enquadrados nesta tela só nossa, explorando como crianças as novas e desconhecidas paisagens lunares do nosso planeta particular.

O reflexo da nossa lua feita de praia e mar seria de tal maneira ampliado pela sua luz interior, que seria capaz de encadear as próprias galáxias e supernovas circundantes. O nosso mundo tornar-se-ia num farol cuja luz seria capaz de atravessar a noite mais desesperançada. E formaria para nós uma cadeia inesgotável de luz, sorrisos e pele, capaz de nos tornar maiores que nós mesmos.

Tomemos pois o que é nosso!

JAO

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