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Foi uma altura em que
conheci muitas mulheres e talvez tenha sido o início de um longo processo para ficar
a percebê-las. Um processo que não tenho ainda a certeza de que tenha terminado.
Mas de facto, com o tempo, fui-me apercebendo como são muito mais complexas,
intensas e premeditadas do que aparentam, e certamente muitíssimo mais
interessantes do que nós homens. Todas têm qualquer coisa de intrigante,
qualquer coisa por descobrir que faz com que cada uma seja especial: uma curva,
um sorriso ou um segredo.
Claro que tive as minhas
paixões. Fui muito feliz em Buenos Aires. Mas não é menos verdade que com as
mulheres que tive me aconteceu de tudo, incluindo o que nunca deveria ter
acontecido. Cometeram-se erros, partiram-se corações, pessoas foram deixadas
para trás. O tio Vasco é que tinha razão quando dizia que as mulheres
ensinam-nos a perceber o valor do silêncio.
Todas as mulheres da minha vida
ensinaram-me mais qualquer coisa sobre mim. Foi graças a elas que eu me
descobri verdadeiramente, que me conheci como sou. Acho até que foram elas que fizeram
de mim um homem. Deixei de me explicar e de me queixar. Aprendi a não repetir
os mesmos erros, a não me deixar manipular pela culpa e a não permitir que eu
me atravessasse no meu próprio caminho. Mas sobretudo o que as mulheres me
ensinaram foi a ouvi-las e a perceber o seu papel de silenciosas guardiãs do
espaço à sua volta, por si ou por interposta pessoa. As mulheres são muito mais
fortes do que nós. A maior parte tem uma enorme sensibilidade e vêm quase
sempre equipadas com a coragem necessária para a acompanhar.
Mas impressiona-me pensar
que ao contrário do que todos dizem, muito pouca gente gostou verdadeiramente
de alguém, durante toda a sua vida. Podem dizer que sim, mas isso é porque
todos se consideram a patética personagem principal do seu pequeno romance
particular. E apesar de eu ter tido mulheres que gostaram de mim pelo que
realmente sou, a verdade é que acabei sempre por deixá-las ir, sem nenhum
motivo aparente.
Bem lá no fundo sempre soube que, desde que te
conheci, nunca mais tive aquela realização interior do dia seguinte, que nos
faz querer transportar todas as manhãs para o resto das nossas vidas. Nunca
mais senti esta vontade de estacionar todo o afeto contido numa vida passada,
presente e futura dentro do pequeno espaço de um abraço bem fechado pela manhã.
E mesmo apesar das relações que durante estes anos ainda cheguei a ter, na
manhã, na semana ou no mês seguinte acabava sempre por ser assaltado por aquela
sensação difícil de conviver, de que afinal, não estava assim tão disponível
quanto gostaria estar.
Mas quando passamos pelas mesmas coisas vezes e vezes
sem conta, com o tempo, tudo começa a fazer sentido. De facto, foram grandes
viagens as que fiz com todas as mulheres que tive. Mas com nenhuma delas fui
tão longe, como aquela que fiz até agora, contigo no meu coração.
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