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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Grande Festa

Durante todo este tempo por aqui, acabei por me dar conta de que, ao mesmo tempo que temos a tendência colectiva de atribuir nomes às coisas, distribuir juízos, colocar os outros em caixinhas com etiquetas organizadas por cores e por ordem alfabética, a verdade é que o que se passa cá dentro tem a biodiversidade da natureza de um autêntico universo paralelo. A infinidade de tons, de cheiros, percentagens de humidade, ritos de acasalamento é de tal ordem que as palavras não chegam para traduzir todos os estados, sentimentos e verdades de cada um. O mundo é toda uma grande festa onde todos parecem alegres porque ninguém se quer dar ao trabalho de tentar sequer começar a explicar a quem dança ao seu lado, o que carrega dentro do coração. Porque o esforço seria grande, o tempo limitado e porque provavelmente o outro nem entenderia. Ou se entendesse, talvez não quisesse saber. Eu talvez não quisesse. Por isso é que todos usamos máscaras que funcionam como ecrãs de normalidade que aprendemos a ostentar perante os outros, e que usamos para os seduzir, para nos escondermos, ou para nos dar o refúgio ou o conforto de que necessitamos. Mas é bom não perdermos de vista que de facto, as mascaras são só o que são. É bom não nos esquecermos que por mais que todos as usemos nesta grande festa onde estamos metidos, atrás de cada linda máscara veneziana, esconde-se uma pessoa igual a mim.
A verdadeira razão porque nos escondemos é que queremos ser aceites ou amados e temos medo de não o ser. Todos queremos alcançar as ideias de ordem e perfeição que criámos para nós e não somos capazes de atingir. E por isso, castigamo-nos e rejeitamo-nos repetidamente. A ponto de nos convencermos que a nossa felicidade depende de qualquer coisa que nos é exterior, muitas vezes esperando até que alguém apareça e nos faça felizes. Mas como é óbvio, procurar que os outros nos façam felizes é tudo menos amar. Amar não é pretender absorver a chama dos outros quando tudo o que existe dentro de nós é apenas um frio e vasto espaço vazio. Não tem nada a ver com alimentarmo-nos de quem está à nossa volta. A quem amamos devemos bem mais do que isso. Devemos-lhes o melhor de nós. Devemos passar-lhes a chama que temos, por mais pequena que ela seja. Como ninguém pode dar o que não tem, amar é partilhar o amor que já trazíamos dentro, mesmo antes de entrar na sala. E quem não tira a sua máscara e se revela a si e o que traz por dentro, nunca conseguirá amar. 
Porque a verdadeira felicidade está afinal aprisionada debaixo de todas as camadas que nos foram sendo acrescentadas, desde o dia em que nascemos. Está na nossa capacidade de regressar ao tempo em que tudo em nós era claro, natural e espontâneo. Na capacidade de voltar às origens e de encontrarmos a criança que em tempos fomos e que temos de conhecer novamente. Na criança que está aqui dentro, à espera de ser libertada, sob a forma de amor.
JAO

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