Mensagens populares

acompanhe no Facebook

quinta-feira, 12 de abril de 2012

grandes viagens

(...)
Foi uma altura em que conheci muitas mulheres e talvez tenha sido o início de um longo processo para ficar a percebê-las. Um processo que não tenho ainda a certeza de que tenha terminado. Mas de facto, com o tempo, fui-me apercebendo como são muito mais complexas, intensas e premeditadas do que aparentam, e certamente muitíssimo mais interessantes do que nós homens. Todas têm qualquer coisa de intrigante, qualquer coisa por descobrir que faz com que cada uma seja especial: uma curva, um sorriso ou um segredo.
Claro que tive as minhas paixões. Fui muito feliz em Buenos Aires. Mas não é menos verdade que com as mulheres que tive me aconteceu de tudo, incluindo o que nunca deveria ter acontecido. Cometeram-se erros, partiram-se corações, pessoas foram deixadas para trás. O tio Vasco é que tinha razão quando dizia que as mulheres ensinam-nos a perceber o valor do silêncio. 
Todas as mulheres da minha vida ensinaram-me mais qualquer coisa sobre mim. Foi graças a elas que eu me descobri verdadeiramente, que me conheci como sou. Acho até que foram elas que fizeram de mim um homem. Deixei de me explicar e de me queixar. Aprendi a não repetir os mesmos erros, a não me deixar manipular pela culpa e a não permitir que eu me atravessasse no meu próprio caminho. Mas sobretudo o que as mulheres me ensinaram foi a ouvi-las e a perceber o seu papel de silenciosas guardiãs do espaço à sua volta, por si ou por interposta pessoa. As mulheres são muito mais fortes do que nós. A maior parte tem uma enorme sensibilidade e vêm quase sempre equipadas com a coragem necessária para a acompanhar.
Mas impressiona-me pensar que ao contrário do que todos dizem, muito pouca gente gostou verdadeiramente de alguém, durante toda a sua vida. Podem dizer que sim, mas isso é porque todos se consideram a patética personagem principal do seu pequeno romance particular. E apesar de eu ter tido mulheres que gostaram de mim pelo que realmente sou, a verdade é que acabei sempre por deixá-las ir, sem nenhum motivo aparente. 
Bem lá no fundo sempre soube que, desde que te conheci, nunca mais tive aquela realização interior do dia seguinte, que nos faz querer transportar todas as manhãs para o resto das nossas vidas. Nunca mais senti esta vontade de estacionar todo o afeto contido numa vida passada, presente e futura dentro do pequeno espaço de um abraço bem fechado pela manhã. E mesmo apesar das relações que durante estes anos ainda cheguei a ter, na manhã, na semana ou no mês seguinte acabava sempre por ser assaltado por aquela sensação difícil de conviver, de que afinal, não estava assim tão disponível quanto gostaria estar.
Mas quando passamos pelas mesmas coisas vezes e vezes sem conta, com o tempo, tudo começa a fazer sentido. De facto, foram grandes viagens as que fiz com todas as mulheres que tive. Mas com nenhuma delas fui tão longe, como aquela que fiz até agora, contigo no meu coração.
(...)

Sem comentários:

Enviar um comentário