Depois de duas curtas paragens pelo
caminho, cheguei a Pinamar ao início da tarde. É uma casa em
madeira, toda pintada de um branco-azul e com um telhado escuro. Tem quatro quartos
e um pé direito baixo, e fica aconchegada entre as dunas cravadas de pinheiros,
mesmo em frente à praia. Está de tal maneira cercada pela vegetação e pelas
dunas que passa facilmente despercebida para quem passeia do lado do mar.
Entrei pela porta da frente e
atravessei-a por dentro. Passei pela sala e abri as portadas do alpendre coberto
que fica virado para o areal, do lado de lá da casa. Depois de as abrir, fiquei
algum tempo ali parado, a olhar através da sala e do alpendre para longe,
sentindo o ar que entrou por ali adentro, como se naquela sala se tivesse
instalado de repente um espírito cheirando a maresia. Já tinha saudades daquela
praia voltada a Oriente, onde a areia fica mais branca ao entardecer, o mar
praticamente da cor do céu e a espuma de um branco cor de neve. Deixei cair o
saco de viagem no chão, pousei as chaves na mesinha que fica em frente do sofá,
e fui imediatamente a um dos quartos que serve de escritório buscar uma mesa
para escrever. Com a ansiedade que tinha para começar, afastei tudo de cima
daquela pequena secretária: o forro em pele, o suporte com a minha coleção de
canetas Montblanc, e a pilha de revistas de surf que sempre ali estiveram,
desde o primeiro dia, enchendo um dos cantos numa espécie de grito de
independência veraneante. A custo, lá consegui arrastar a mesa para a sala
colocando-a mesmo por baixo do vão que separa a sala do alpendre entre as duas
portadas recolhidas dos lados. Depois, tirei o maço de cadernos da mala,
preparei dois litros de mazagran, pus a tocar um disco do Miles Davis, e ali
fiquei, numa escrita febril e silenciosa, até ao anoitecer.
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